Num momento em que o nosso país está próximo do abismo, venho cumprir com o meu dever de cidadão e propor uma solução credível e sustentável para todos. Neste mar encapelado em que o mundo se transformou, Portugal está a ser atacado por uma série de ondas discretas e nervosas: discretas porque ninguém foi previamente avisado da proveniência das mesmas, pelo menos é o que nos querem fazer crer!, e nervosas porque apenas sabemos que têm humor variável, segundo a leitura que cada um faz das estatísticas. Mas agora a situação, de acordo com a natureza e o sonho dos portugueses, é ainda mais grave: este navio que somos foi abalroado por um iceberg. Não é justo que assim seja, porque foi lançado ao mar nas águas mediterrânicas, um dos mares mais calmos que existe, rumou para a Escandinávia, numa estação ainda favorável, e meteu água por tudo quanto era sítio. Só as alterações climáticas podem justificar este furacão!
Qual Orçamento? Qual défice? Qual retoma? Qual alteração da Constituição? Qual despedimento por causas atendíveis? Quais crises reais ou imaginárias? Deixem-se de tretas, os portugueses estão de rastos porque a nossa selecção meteu água com o Chipre e foi abalroada pela Noruega. E é aqui que eu entro! Mourinhos, e outros que tais, comparados comigo, em termos de estratégia futebolística, são meros aprendizes de feiticeiros! Por isso, lanço aqui um desafio: apoiem a minha selecção! Sou eu que vou fazer a equipa de todos nós! Fazer a equipa e explicar o esquema técnico-táctico!
Assim, caso também seja esse o vosso entendimento, despedirei os seleccionadores e os jogadores que até aqui actuaram, e formarei assim a minha equipa titular:
Guarda-redes: Carlos Cruz. Está em forma a defender-se e quer passar a ideia que os meninos não lhe metem golos! Faz-me lembrar o Preud’Homme quando, perante avançados isolados, dava dois passos em frente e uma atrás e estes trocavam as pernas e deixavam-lhe ficar a bola! Os níveis de motivação são elevados e a comunicação social deseja-o em jogo.
Laterais defensivos: Na direita Paulo Portas e na esquerda Francisco Louça. São ambos laterais de raiz, procuram fazer todo o seu corredor, centram mal, mas são aguerridos e chateiam o adversário! Para além disso, “dão cacete p’ra caraças!”
Defesas Centrais: O Procurador-geral da República e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Pelo que dizem, porque nunca os vi jogar, são autoritários, têm bom jogo aéreo, defendem bem as suas balizas e, não raras vezes, vemo-los subir à área adversária para “causarem estragos”. Reconheço que os meto a jogar nesta posição por indicação dos meus olheiros (jornalistas)! Meto-os também na equipa principal porque posso precisar de uma desculpa se as coisas correrem mal!
Médio mais recuado: Aníbal Cavaco Silva. Pisa terrenos recuados, joga bem à defesa, protege a sua equipa, passa a ideia de um trabalho árduo e supostamente consensual! Tem um ritmo pendular, monocórdico e costuma despachar o jogo da sua área de jurisdição.
Médio-ala direita: Reconheço que vamos ter de fazer uma adaptação, de resto muito simples. Inicialmente conotado como canhoto, o Eng.º José Sócrates dá uns toques com ambos os pés, mas centra muito melhor com o direito. É um jogador versátil que procura ocupar todas as zonas de terreno, razão pela qual confunde os seus adversários. Quando colocado na esquerda joga muitas vezes para trás, ou seja, não dá profundidade ao jogo; quando colocado na direita arranca ferozmente pela lateral, suscita o contacto físico e simula algumas cambalhotas, ganhando aqui e ali algumas faltas que o beneficiam em termos de produção de jogo. Por isso, se não o colocássemos a jogar nesta posição, para a qual não temos melhor, teria de ocupar a posição de apanha-bolas, cenário que o próprio recusa porque se ainda acha com forças para prosseguir a sua carreira.
Médio-ala esquerdo: Jerónimo de Sousa. Ainda que jogue totalmente junto à linha e não tenha profundidade de jogo, tem a vantagem de não jogar para trás. Tenta centrar para as costas do adversário e acredita piamente numa jogada de sorte. Interpreta todas as manifestações vindas da bancada como cânticos da Internacional do PCP, transformando assim os assobios em motivação extra.
Médio-ofensivo: Passos Coelho. Contrariamente a quem veio substituir, os adeptos acham-no sexy, tenta estar sempre em jogo, distribuir e causar jogadas de perigo, acusa os avançados de perdulários, deixa a entender que a equipa não o serve nas melhores condições, assume-se como criativo, tens os olhos colocados na baliza adversária, sente-se no ar a possibilidade de estar a preparar jogadas ainda não ensaiadas, como pontapés de bicicleta à Maradona, desmarca muito bem os seus avançados, apesar de não conseguir confundir as defesas. Não lateraliza jogo e, no alto do seu pretenso virtuosismo, assume-se como 10+1. É o Cristiano Ronaldo da minha selecção, o que faz com que os portugueses possam rever-se em jogadas que nem eles mesmo compreendem, mas que no alto da sua ignorância achem muita piada!
Avançados: Defensor Moura na posição atrás do ponta de lança. Recebe o jogo de costas para a baliza, vai aos cornos do touro como se não existisse arena, raramente remata, mas confunde a equipa adversária e abre jogo para os outros. Como ponta de lança escolho o Secretário de Estado Laurentino Dias, porque remata que se farta, não marca mas provoca emoção no jogo, gesticula e fala muito, simula faltas, ralha com os árbitros e, azar dos azares, costuma, quando acompanha os movimentos ofensivos dos centrais da equipa adversária, marcar na própria baliza, ou então com a sua densa cabeleira, amortece a bola para o remate de quem lhe segue os movimentos.
Treinador: Só pode haver um... EU! Depois de tanto trabalho a formar esta equipa é um imperativo moral que me responsabilize pelas decisões tomadas. Não quero deixar ficar a ideia de que sou um cobarde. Sei que será um grande encargo para a minha família, mas o meu sentido patriótico assim o exige! Serei treinador desta equipa pelo tempo que quiserem, com uma cláusula de rescisão baixíssima: 250.000 euros, que corresponde ao pagamento integral do meu crédito à habitação e ao recebimento antecipado da reforma a que não vou ter direito. No entanto, como não sou materialista, a cláusula de rescisão também é negociável, podendo apenas cobrir o crédito à habitação que me falta pagar, dado que a reforma, como já aduzi, está em vias de ser reformada!
Esta equipa não tem suplentes porque os atletas escolhidos aguentam estoicamente todo o jogo, os minutos que forem necessários nos prolongamentos, dado não se saber bem quando entra e sai de cena a figura da morte súbita, e estão habituados à pressão das penalidades. São jogadores que nunca se lesionam, apesar de simularem muitas faltas. Grande parte deles utiliza o spray milagroso, mas mais como um instrumento de vitimização, de desmoralização do adversário e como forma de pressão sobre os árbitros, de modo a que estes apliquem as regras de jogo que lhe sejam mais favoráveis.
Caras(os) compatriotas: fazei de mim o seleccionador nacional! Com esta equipa, ainda vamos a tempo de vencer o Europeu 2012!
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