O chefe religioso, o analista e o artista
>> novembro 12, 2009
O chefe religioso, como o analista, desperta nos homens a consciência do Id, o grande reservatório desconhecido e fundamento da humanidade. Ao tornar os homens conscientes desta identidade do seu substracto, desta fraternidade da cintura para baixo, desta humanidade à espreita, por assim dizer, ele põe em movimento uma força da oposição, a divindade. Se traçarmos um esquema psicológico da alma humana, teremos algo semelhante a um iceberg, com um terço visível e dois terços invisíveis, abaixo da superfície do mar, abaixo do limiar da consciência. O que distingue os grandes dos pequenos icebergs é a elevação e a profundidade – a medida de uma é a medida de outra. A mesma força que impele um iceberg até ao mais alto também mergulha mais fundo do que os outros. O isolamento é o índice da profundidade. De que serve, então os analistas insistirem na adaptação à realidade? Que realidade? Realidade de quem? A realidade do iceberg. Primeiro ou dos icebergs X, Y e Z? Todos nadamos nos fundos do oceano e voamos na estratosfera. Alguns mergulham um pouco mais profundamente, alguns sobem um pouco mais alto – mas é sempre ar e água, sempre realidade, mesmo que se trate de uma realidade completamente louca. O analista acentua a realidade mais profunda, o líder religioso, a realidade espiritual estratosférica. Nenhum deles tem inteira razão. Ambos distorcem a imagem da realidade, na demanda apaixonada da verdade. O artista não está interessado na verdade ou na beleza em si. O artista abala essas imagens, porque é perfeitamente desinteressado. A sua visão contorna os obstáculos, recusando esgotar-se em ataques frontais. A sua obra é simplesmente a expressão de uma luta que visa a adaptação a uma realidade por ele próprio criada, e contém em si todas as restantes abordagens da realidade, conferindo-lhes sentido.
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