Vencer o medo da morte
>> novembro 06, 2009
A experiência por si só não tem valor, como a ideia por si só não tem valor. Para dar validade a qualquer delas, teremos que as utilizar em sinultâneo e plasticamente. Em suma, nunca nos curaremos das nossas doenças (físicas e mentais), nunca alcançaremos um paraíso (quer real quer imaginário) e nunca eliminaremos os nossos instintos maléficos e adversos (sejam eles quais forem). No campo das ideias, o melhor que alguma vez conseguiremos será uma filosofia da vida (e não uma ciência da vida, o que seria uma contradição nos termos); no campo da experiência, nunca lograremos melhor expressão do que a afirmação da nossa natureza animal (e não dos nossos modelos culturais). O objectivo mais alto do homem, enquanto pensador, é alcançar um modelo, uma síntese, capaz de captar poeticamente a vida; o objectivo mais alto e mais essencial do homem, enquanto animal, é dar plena expressão aos seus instintos, obedecer aos seus instintos, levem-nos estes para onde os levarem. Enquanto não puder agir como um selvagem ou menos do que um selvagem e pensar como um deus ou melhor do que um deus, o homem sofrerá, oferecer-se-á a si próprio remédios, governos, religiões, terapias. Por trás de todo o seu comportamento está o medo – o medo da morte. Pudesse ele vencer esse medo, e viveria como um deus e um animal. O medo da morte engendrou toda uma cosmogonia de medos menores que nos empestam de mil maneiras diferentes. Estamos definitivamente dominados pelos pequenos medos, como sabemos. Quanto maior a personalidade, maior a simplificação, maior o diapasão, a tensão, a polaridade, o sumo, a vitalidade. Podemos tornear o medo, isolá-lo e contrapor-lhe uma grandiosa sinfonia de vida, ou podemos recusar-nos a reconhecê-lo, travar um milhão de batalhas triviais todos os dias e ter como resultado essa mixórdia insípida que faz para a maioria dos homens as vezes do verdadeiro alimento.
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