Escuta, Zé Ninguém!

>> abril 09, 2009

“Os homúnculos da tua estirpe aprenderam… E dizem-te sem rebuços que tu, a tua vida, os teus filhos e a tua família não contam, que és estúpido e subserviente e que podem fazer de ti o que lhes aprouver. E em vez de liberdade pessoal prometem-te liberdade nacional. Não te prometem dignidade pessoal mas respeito pelo Estado; grandeza nacional em vez de grandeza pessoal.

Não, Zé Ninguém, nunca te inquietaste com a possibilidade do que pensas estar errado, mas sim com o que iria pensar o teu vizinho ou com o preço possível da tua honestidade.

Mas é da natureza do grande homem não esquecer nem vingar-se mas tentar entender a INCONSISTÊNCIA DO TEU COMPORTAMENTO.

Perto de ti é difícil pensar, Zé Ninguém. É apenas possível pensar acerca de ti, nunca contigo. Porque tu sufocas qualquer pensamento original.

Conheço-te. Experimentei-te e experimentei-me contigo. Como terapeuta libertei-te da tua mesquinhez, como educador orientei-te no sentido da espontaneidade, da confiança. Sei como te defendes da espontaneidade, sei o terror que te toma quando te pedem que sejas tu próprio, autêntico e genuíno.

Exiges que a vida te conceda a felicidade, mas a segurança é-te mais importante, ainda que custe a dignidade ou a vida. Como nunca aprendeste a criar felicidade, a gozá-la e a protegê-la, não conheces a coragem do indivíduo recto.

Só sabes sorver e apanhar, não sabes criar ou dar, porque a atitude básica do teu corpo é a retenção e o despeito; porque entras em pânico de cada vez que sentes os impulsos primordiais do AMOR e da DÁVIDA.

Gritas «aqui-d'el-rei» quando alguém te denuncia a prisão de ventre mental.

Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe.

Pensas que os fins justificam os meios, ainda que estes sejam vis. Enganas-te: o fim é a trajectória com que o alcanças. Cada passo de hoje é a tua vida de amanhã.

Não entendes que és servil quando deverias ser irreverente e ingrato sempre que deves lealdade.

Não passas de um peido e julgas-te perfumado a violetas.

Eu conheço a facilidade com que diagnosticas de loucura toda a verdade que te desagrada.

Afirma-se habitualmente que és estúpido – ora, eu sei-te inteligente, mas cobarde.

Afirmam-te que és a escória da humanidade – eu diria que és a sementeira.

Talvez te houvesse sido possível entenderes-te a ti próprio se não tivesses engolido bovinamente tudo o que te caía nas mãos.”



"Todo o homem e mulher têm opiniões erradas e certas. Expressa as erradas porque teme as igualmente erradas dos outros homens e mulheres comuns – e esta é a razão fundamental porque as opiniões correctas raramente são expressas."

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