Pousar os Pés na Terra
>> abril 09, 2009
"De todos os despotismos, o dos doutrinadores ou dos inspirados religiosos é o pior. Eles são tão ciumentos da glória do seu Deus e do triunfo de sua ideia que não lhes resta mais coração, nem pela liberdade, nem pela dignidade, nem mesmo pelos sofrimentos dos homens vivos, homens reais. O zelo divino, a preocupação com a ideia, acabam por dissecar, nas almas mais delicadas, nos corações mais compassivos, as fontes do amor humano. Considerando tudo o que é, tudo o que se faz no mundo do ponto de vista da eternidade ou da ideia abstrata, eles tratam com desdém as coisas passageiras; mas toda a vida dos homens reais, dos homens em carne e osso, só é composta de coisas passageiras; eles próprios nada mais são do que seres que passam, e que, uma vez passados, são substituídos por outros, também passageiros, mas que não retornam jamais. O que há de permanente ou de relativamente eterno é a humanidade, que se desenvolve constantemente, de geração em geração. Digo relativamente eterno porque, uma vez destruído o nosso planeta, e ele não pode deixar de perecer mais cedo ou mais tarde, pois tudo o que começa tem necessariamente um fim, uma vez que o nosso planeta se decomponha, para servir sem dúvida alguma de elemento a alguma nova formação no sistema do universo, o único realmente eterno, quem pode saber o que acontecerá com todo o nosso desenvolvimento humano? Todavia, como o momento desta dissolução se encontra imensamente afastado de nós podemos considerar, em relação à vida humana tão curta, a humanidade eterna. Mas esse facto de a humanidade ser progressiva só é real e vivo pelas suas manifestações em tempos determinados, em lugares determinados, em homens realmente vivos, e não na sua ideia em geral."
0 comentários:
Enviar um comentário