Moral Anarquista

>> maio 25, 2009

Os cristãos diziam: «Não faças ao outro o que não queres que te façam a ti». E acrescentavam: «Caso contrário, serás enviado para o inferno!»

A moralidade que resulta da observação de todo o conjunto do reino animal, superior em muito à precedente, pode resumir-se do seguinte modo: «Faz aos outros aquilo que quererias que te fizessem a ti nas mesmas circunstâncias».

E acrescenta:

«Observa que se trata unicamente de um conselho. Mas este conselho é fruto de uma longa experiência da vida dos animais em sociedade, incluído nela o homem, agir de acordo com esse princípio passou ao estado de hábito. Sem isso, além do mais, nenhuma sociedade poderia existir, nenhuma espécie poderia vencer os obstáculos naturais contra os quais tem de lutar.»

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Manifesto Ecológico

>> maio 19, 2009

O domínio do ser humano sobre a Natureza e a exploração gananciosa dos recursos naturais podem colocar em risco a sobrevivência da Humanidade. Em 1854, o chefe índio Seattle (1787-1866) da tribo Duwamish ficou célebre pela carta que enviou ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, como resposta à proposta de aquisição das terras da zona norte do actual estado de Washington, onde vivia a sua tribo. Esta carta é considerada um dos mais belos manifestos ecológicos.


“Se todos os animais desaparecessem, o Homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais não tarda a acontecer ao Homem. Todas as coisas estão relacionadas entre si.
Ensinem aos vossos filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Tudo quanto fere a terra fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão é sobre eles próprios que cospem.
Uma coisa sabemos: a terra não pertence ao Homem, é o Homem que pertence à terra. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si.
Mas nós vamos considerar a vossa oferta e vamos para a reserva que destinais ao meu povo. Viveremos à parte e em paz. Mas porque chorar o fim do meu povo? As tribos são constituídas por homens e nada mais. E os homens vão e vêm como as vagas do mar.
O homem branco perecerá também e, quem sabe, antes de outras tribos. Continuem a macular o vosso leito e irão sufocar nos vossos desperdícios.
Apesar de tudo, talvez sejamos irmãos. Veremos.”

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Ensinar a ensinar sozinho

>> maio 17, 2009


Para quê reformar os estudos escolares se estes continuarem separados das preocupações quotidianas em que o vivo se altera e reanima sem cessar?
É no ponto de criação onde se encontram vida e conhecimento que o projecto de um gaio saber ganhará consistência, verdadeira paisagem balizada por faróis que ensinam a ensinar sozinho ao transformar a secura erudita numa irradiação da arte de viver.

Nada mais precioso do que a busca duma autonomia individual, única garantia contra o clientelismo, os comportamentos de assistidos, o parasitismo da dependência, a imbecilidade gregária que foram a lição permanente duma sociedade hierarquizada e cuja burocracia financeira lhe faz agora a causa.

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Segregação precoce no ensino

>> maio 12, 2009


Será de estranhar ver suprimir, para alguns, esse ensino geral cujos verdadeiros efeitos são aguçar o espírito crítico, a tomada de consciência, a consciência de si e, com ela, a do direito de ter direito ao respeito?

O ensino real deve ensinar os meios de encontrar na vida como vivê-la e não somente «ganhá-la»!

Acontece que os viveiros das «forças vivas da nação» estão previamente reservados para os rebentos das «forças vivas» em exercício e para os que não estejam socialmente muito distantes. Estando os outros destinados a tornar-se seus subordinados.

Que há de democrático, de republicano, nessa segregação precoce, que fornece à economia de mercado material humano garantido «pronto para o emprego» … ou para o desemprego?


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Filósofo Vagabundo (6)

>> maio 07, 2009


“Sim, gosto loucamente de mulheres… e, no entanto, odeio-as. Sinto um desejo irresistível de lhes pregar uma grossa partida… uma dessas… entende, hem! Que não cause nem prejuízo nem desonras externas, mas cuja lembrança dure tanto como a vida.
Porque sou eu tão mau para com as mulheres? Ignoro-o, e não me é possível explicá-lo.
Elas trataram-me sempre bem, porque eu era bonito e destemido…
Mas que hipócritas, perversas e falsas, elas são no fundo do coração!... Por isso é que gosto de as fazer chorar, pois, ao ver as suas lágrimas e ao escutar as suas queixas, penso comigo: Esta mulher sofre agora; mas tarde ou cedo há-de fazer-me sofrer.”

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Economia Especulativa


As economias proibitivas com vista a ganhos acelerados têm como objectivo torná-la concorrencial, não no plano da qualidade, ou mesmo do jogo comercial, mas no da perseguição aos investimentos especulativos, mesmo que seja nociva a esse jogo ou a essa qualidade.

A «economia de mercado» não se limita a investir os seus lucros na especulação; é, pelo contrário, a especulação que investe. Fundem-se entre si.


As empresas poderiam não existir, uma vez que não se aposta nos seus activos reais, na sua gestão óptima em função da qualidade dos seus produtos, mas nos seus títulos cotados na Bolsa, que têm a sua própria existência, independentemente dessa qualidade. Já não é a qualidade que vai determinar a cotação, é a cotação que vai tomar o lugar da qualidade.

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Filósofo Vagabundo (5)

>> maio 06, 2009


“Penso que sou um homem para o qual a vida é demasiado pequena. A vida é estreita e eu… sou largo. Talvez isto não seja verdade, mas há na terra uma variedade especial de gente que descende provavelmente do judeu errante. A sua particularidade consiste em que não pode encontrar em parte alguma da terra, um lugar onde possa ficar. Reside nela um desejo de variedade, de novidade, um movimento inquieto. Os mais fracos não podem encontrar calças a seu gosto o que os entristece e descontenta: ao passo que aos mais fortes, nada os satisfaz, nem o dinheiro, nem as mulheres, nem os homens… Estas pessoas não se querem no mundo, são audazes e intratáveis. A maior parte dos homens são como a moeda corrente, que apenas se diferencia pelo ano em que foi cunhada.
Uma está usada, outra é mais nova; mas têm o mesmo valor, a matéria de que foram feitas é análoga; parecem-se nas menores particularidades. Mas eu não sou dessas moedas… e aqui tem.”

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Lucros...


Reforçar a competitividade ou prever um aumento dos lucros, implica, muito naturalmente a decisão de despedir em massa e de forma igualmente evidente a prioridade dada à produtividade sobre a produção, aos accionistas sobre os consumidores. Não se fale sequer dos desempregados!

Há uma incompatibilidade crescente do crescimento dos lucros com a defesa e a manutenção do emprego.

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Filósofo Vagabundo (4)

>> maio 03, 2009


“Há qualquer coisa de absorvente e irresistível na vagabundagem. É uma volúpia isto de a gente se sentir emancipado a todos os devedores, de todas as prisões da existência que não podem quebrar quando se vive entre os seus semelhantes; de todas as pequenas coisas que tornam a vida aborrecida e que fazem dela, em vez de alegria que deveria ser, uma carga insuportável. E para quê? Por deveres do género desse que nos obriga a vestir de certa maneira, a falar de certo modo, a fazer tudo segundo os hábitos e não segundo os nossos desejos.
Quando a gente encontra qualquer conhecido tem de lhe perguntar: “Tem passado bem? – como é costume, e não: “Rebenta para aí” – como seria às vezes o nosso desejo.
Em geral, para dizer a verdade, que são essas relações solenemente estúpidas entre pessoas distintas? Uma triste comédia. E até uma vil comédia, porque um homem não diz ao outro que está na sua presença: “Você é um imbecil e um tratante!” E se assim acontece, o facto não passa de um desses ataques de sinceridade a que se chama cólera.
E na condição de vagabundo vive-se à margem dessas bagatelas.
O facto de se ter renunciado, sem mágoa, a algumas facilidades da vida, e de se poder viver sem elas, eleva-nos aos nossos próprios olhos de uma maneira agradável. A gente torna-se mais indulgente consigo mesmo.
Eu nunca fui muito severo para com a minha pessoa, e os dentes da minha consciência nunca me fizeram grande dano; e tão pouco me tenho entretido a arranhar o coração com as garras da inteligência.
Desde muito novo que, sem mesmo dar por isso, tomei para meu uso a filosofia mais sábia e mais simples. “De qualquer maneira que vivas, tens de morrer”.Sendo assim, para que há-de uma pessoa cansar-se a seguir pela esquerda, quando a natureza, com todas as suas forças, nos arrasta para a direita? Eu não posso suportar as pessoas que se partem ao meio. Para que o fazem? Já me tem acontecido falar com gente dessa. Então pergunto-lhes: “Que sentes irmã? Porque te escandalizas, amigo?”, “Esforço-me por conseguir a perfeição”, respondem-me. “E para quê?”, “Como, para quê? Porque na perfeição do homem reside o bom sentido da vida”.
Pois bem, eu não entendo assim. No aperfeiçoamento da árvore, há uma razão evidente: a perfeição para que possa servir de alguma coisa; empregam-na para fazer berços, caixões e outros objectos úteis ao homem. Mas, enfim, se te aperfeiçoares é lá por tua conta; no entanto, diz-me porque me acusas e para que queres converter-me à tua fé?
Respondem-me:
- Porque és ignorante e não procuras o sentido da vida.
- Pois encontrei-o, sou um idiota e a consciência da minha imbecilidade acabrunha-me.
- Mentes – dizem esses loucos. – Se te apercebes do teu estado, deves corrigir-te.
- Como, corrigir-me? Eu vivo em paz comigo mesmo. A razão e os pensamentos são em mim uma e a mesma coisa, a palavra e a acção estão em mim em perfeita harmonia.
- Isso – dizem – é baixeza e cinismo.
É assim que todos julgam. Sei que mentem e que são idiotas, sei isso, e não posso desprezá-los, porque conheço, e se amanhã se declarasse honrado, puro e bom, tudo o que hoje é vil, sujo e mau, todos esses honrados seriam, puros e bons, desde amanhã, sem o mínimo esforço.
Dirá o senhor que isto é ir demasiado longe. Não é tal e já se convencerá. Eu digo: sirvo a Deus e ao Diabo. Um verdadeiro miserável vale sempre mais que um falso honrado. Há uma cor branca e outra negra; se as misturarem, resultará uma cor suja.
Em toda a minha vida só conheci homens honrados, dessa honradez de pedacitos desiguais que esses indivíduos tinham apanhado debaixo das janelas, ou em caixotes de lixo…
Há outra honradez pedante: a que o homem aprende nos livros e que lhe serve, como os fatos novos, para os dias de gala. E, em geral tudo o que é bom na maioria das pessoas honradas não é natural; usam-no para se pavonearem umas diante das outras.
Tenho topado com pessoas boas por natureza… Mas estas encontram-se poucas vezes e quase exclusivamente entre gente simples, fora da cidade…
Compreende-se imediatamente que são bons, logo se vê que nasceram bons e sérios.
De resto, que o diabo os leve a todos: aos bons e aos maus.”

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Corrosão do carácter


O carácter corroído é aquele que se vê incapaz de oferecer uma narrativa da vida pessoal e de lhe dar uma sólida linha de rumo.

A flexibilidade, vista a partir de baixo, é a fragmentação do tempo, é viver em risco e ambiguidade, é perder a noção de estabilidade, é a vida feita de sucessivos agoras e recomeços contínuos. A flexibilidade é o subtil fim da carreira profissional e o desprezo pela experiência acumulada. É também um código moral e ético novo que desliza entre si o mundo do trabalho e as sociabilidades, na família, entre amigos, ou na comunidade e na vida pública.


Em lugar dos valores camaleonescos da nova economia, a família devia enfatizar a obrigação formal, o ser digno de confiança, a entrega e o propósito. Todas estas são virtudes a longo prazo.

Como é que podem prosseguir-se valores de longo prazo numa sociedade de curto prazo?

Como é que podem ser sustentadas relações sociais duradoiras?

Como é que o ser humano consegue desenvolver uma narrativa de identidade e história de vida numa sociedade composta de episódios e fragmentos?

As condições da nova economia alimentam-se em vez disso, da experiência que se acumula no tempo, de lugar para lugar, de emprego para emprego.
O capitalismo de curto prazo ameaça corroer o carácter, particularmente as qualidades de carácter que vinculam os seres humanos uns aos outros e conferem uma sensação de eu sustentável a cada um.



A compreensão é um sentimento moral espontâneo; irrompe repentinamente quando um homem ou uma mulher entende de repente os sofrimentos ou as tensões doutro. A divisão do trabalho tolda, porém, a explosão espontânea; a rotina reprime o jorro da compreensão.

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