Corrosão do carácter
>> maio 03, 2009
O carácter corroído é aquele que se vê incapaz de oferecer uma narrativa da vida pessoal e de lhe dar uma sólida linha de rumo.
A flexibilidade, vista a partir de baixo, é a fragmentação do tempo, é viver em risco e ambiguidade, é perder a noção de estabilidade, é a vida feita de sucessivos agoras e recomeços contínuos. A flexibilidade é o subtil fim da carreira profissional e o desprezo pela experiência acumulada. É também um código moral e ético novo que desliza entre si o mundo do trabalho e as sociabilidades, na família, entre amigos, ou na comunidade e na vida pública.
Em lugar dos valores camaleonescos da nova economia, a família devia enfatizar a obrigação formal, o ser digno de confiança, a entrega e o propósito. Todas estas são virtudes a longo prazo.
Como é que podem prosseguir-se valores de longo prazo numa sociedade de curto prazo?
Como é que podem ser sustentadas relações sociais duradoiras?
Como é que o ser humano consegue desenvolver uma narrativa de identidade e história de vida numa sociedade composta de episódios e fragmentos?
As condições da nova economia alimentam-se em vez disso, da experiência que se acumula no tempo, de lugar para lugar, de emprego para emprego.
O capitalismo de curto prazo ameaça corroer o carácter, particularmente as qualidades de carácter que vinculam os seres humanos uns aos outros e conferem uma sensação de eu sustentável a cada um.
A compreensão é um sentimento moral espontâneo; irrompe repentinamente quando um homem ou uma mulher entende de repente os sofrimentos ou as tensões doutro. A divisão do trabalho tolda, porém, a explosão espontânea; a rotina reprime o jorro da compreensão.
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