Antes de tomar partido, conhecer.
>> agosto 31, 2009
A guerra do Iraque foi uma antecipação de Gaza: a lógica é a mesma, as operações são as mesmas, a desproporção da violência é a mesma
Está a ocorrer na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestiniano cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.As razões próximas, apesar de omitidas pelos media ocidentais, são conhecidas. Em Novembro passado a aviação israelita bombardeou a faixa de Gaza em violação das tréguas, o Hamas propôs a renegociação do controle dos acessos à faixa de Gaza, Israel recusou e tudo começou. Esta provocação premeditada teve objectivos de política interna e internacional bem definidos: recuperação eleitoral de uma coligação em risco; exército sedento de vingar a derrota do Líbano; vazio da transição política nos EUA e a necessidade de criar um facto consumado antes da investidura do Presidente Obama. Tudo isto é óbvio mas não nos permite entender o ininteligível: o sacrifício de uma população civil inocente mediante a prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade cometidos com a certeza da impunidade.
É PRECISO RECUAR NO TEMPO. Não ao tempo longínquo da bíblia hebreia, o mais violento e sangrento livro alguma vez escrito. Basta recuar 60 anos, à data da criação do Estado de Israel. Nas condições em que foi criado e depois apoiado pelo Ocidente, o Estado de Israel é o mais recente (certamente não o último) acto colonial da Europa. De um dia para o outro, 750 mil palestinianos foram expulsos das suas terras ancestrais e condenados a uma ocupação sangrenta e racista para que a Europa expiasse o crime hediondo do Holocausto contra o povo judeu.
Uma leitura atenta dos textos dos sionis- tas fundadores do Estado de Israel revela tudo aquilo que o Ocidente hipocritamente ainda hoje finge desconhecer: a criação de Israel é um acto de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados; não haverá nunca paz, qualquer apaziguamento será sempre aparente, uma armadilha a ser desarmada (daí que a seguir a cada tratado de paz se tenha de seguir um acto de violação que a desminta); para consolidar a ocupação, o povo judeu tem de se afirmar como um povo superior condenado a viver rodeado de povos racialmente inferiores, mesmo que isso contradiga a evidência de que árabes e judeus são todos povos semitas; com raças inferiores só é possível um relacionamento de tipo colonial, pelo que a solução dos dois Estados é impensável; em vez dela, a solução é a do apartheid, tanto na região como no interior de Israel (daí os colonatos e o tratamento dos árabes israelitas como cidadãos de segunda classe); a guerra é infinita e a solução final poderá implicar o extermínio de uma das partes, certamente a mais fraca.
O QUE SE PASSOU NOS ÚLTIMOS 60 anos confirma tudo isto mas vai muito para além disto. Nas duas últimas décadas, Israel procurou, com êxito, sequestrar a política norte-americana na região, servindo-se para isso do lóbi judaico, dos neoconservadores e, como sempre, da corrupção dos líderes políticos árabes, reféns do petróleo e da ajuda financeira norte-americana. A guerra do Iraque foi uma antecipação de Gaza: a lógica é a mesma, as operações são as mesmas, a desproporção da violência é a mesma; até as imagens são as mesmas, sendo também de prever que o resultado seja o mesmo. E não se foi mais longe porque Bush, entretanto, se debilitou. Não pediram os israelitas autorização aos EUA para bombardear as instalações nucleares do Irão? É hoje evidente que o verdadeiro objectivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestiniano.
Terão os israelitas a noção de que a shoah com que o seu vice-ministro da Defesa ameaçou os palestinianos poderá vir a vitimá-los também? Não temerão que muitos dos que defenderam a criação do Estado de Israel hoje se perguntem se nestas condições e repito: nestas condições o Estado de Israel tem direito de existir?
Texto de Boaventura Sousa Santos in Visão
Longe de ser um partidário de qualquer das facções, pretendo apenas trazer à tona alguma informação. De um lado um país com grande poderio bélico e grande apoio e conivência internacional. De outro um povo desagregado, sem organização política, social ou coesão que remotamente se assemelhe a um estado. Ao horror do terrorismo suicidário da parte mais fraca responde sempre uma força esmagadora e peremptória. O nosso foco deve centrar-se unicamente num ponto: os inocentes. Há-os de ambos os lados, pessoas comuns que vão pelos ares enquanto vão às compras, famílias inteiras que escorraçam da única casa que conheceram. Deixo alguns exemplos das atrocidades que todos os dias se cometem, perpetradas por ambos os lados.
Contra palestinianos:
Os apedrejamentos de famílias palestinianas são comuns, a maior parte das vezes executadas por crianças israelistas com a complacência dos militares.
Contra Israelitas (encontrei menos videos mas todos os vemos nos telejornais e conhecemos as vítimas civis dos atentados suicidas):
Uma pergunta que me assola com frequência: haverá algum país com muito forte pendor religioso que se possa considerar desenvolvido, estável e bom para viver? Tenho muitas dificuldades em encontrar tal lugar. Mais do que os culpados concretos de lado a lado tenho a forte convicção que o fundamentalismo religioso (igualmente presente nas duas facções)é o grande responsável pelo ódio que por Gaza se respira. As maiores atrocidades continuam a ser perpetradas em nome de um qualquer deus ou convicção religiosa e a ditadura moral continua a devastar países e a provocar verdadeiros genocídios. Não acredito que negociações ou uma muito pouco provável vitória de uma das partes termine com o conflito, nem sequer pela intervenção de uma passiva comunidade internacional. Acredito que a única solução é o LAICISMO. Enquanto se tentar construir a vida com base em dogmas inegociáveis e não em valores universais de humanismo nada há-de mudar. Read more...