Fazer avançar a história

>> setembro 15, 2009

«A obsessão da colheita e a indiferença pela história são as duas extremidades do meu arco.»
Se o tempo da história não é igualmente o tempo da colheita, a história não passa efectivamente de uma sombra fugaz e cruel de que o homem já não participa. Quem se consagra a essa história não se dá a coisa alguma e já não é, por sua vez, coisa alguma. Mas quem se consagra ao tempo da sua vida, à casa que defende, à dignidade dos vivos, esse dá-se à terra e dela recebe a colheita que semeia e de novo alimenta. Digamos, finalmente, que quem faz avançar a história são aqueles que sabem, no momento desejado, revoltar-se também contra ela. Isto supõe uma tensão interminável e a crispada serenidade. Mas a verdadeira vida está presente no coração desse desgarramento. Ela é o próprio desgarramento, o espírito que paira sobre vulcões de luz, a loucura da equidade, a intransigência extenuante do equilíbrio. O que, para nós, ecoa impressionantemente nos confins desta longa aventura revoltada não são fórmulas de optimismo, que de nada nos serviram nos extremos da nossa infelicidade, mas palavras de coragem e de inteligência, as quais, perto do mar, são mesmo virtude.

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