Interesse no indivíduo

>> outubro 15, 2009

«Pouco sei de história, de política, de literatura, de arte, de ciência, de filosofia, de religião, etc. Sei apenas o que aprendi por meio da experiência. Não tenho confiança nos homens que nos explicam a vida em termos de história, de economia, de arte, etc. Esses tipos são os que nos enrolam, com a prestidigitação das suas ideias abstractas. Penso que se trata do mais cruel dos logros incitar os homens a investirem a sua esperança de justiça em qualquer ordem externa, qualquer forma de governo, ordem social ou sistema de direitos ideais. Todos os dias leio isto ou aquilo sobre a dialéctica marxista, como se não perceber esse linguajar fosse uma nódoa da inteligência humana. Bom, devo confessar, e faço-o de bom grado, que nunca li uma linha de Karl Marx. Nunca senti a obrigação de o ler. E quanto mais ouço os seus discípulos melhor entendo que não perdi nada. Dizem eles que Karl Marx explica a estrutura da nossa sociedade capitalista. A vossa sociedade capitalista que se lixe! Que se lixe a vossa sociedade comunista e a vossa sociedade fascista e todas as vossas sociedades mais! A sociedade é feita de indivíduos. É o indivíduo que me interessa – não a sociedade

5 comentários:

Anónimo 16 de outubro de 2009 às 23:07  

Tantas frases chavão que demonstram tantas certezas, que de certeza, não as são.

Anónimo 16 de outubro de 2009 às 23:35  

"A sociedade é feita de indivíduos. É o indivíduo que me interessa – não a sociedade."

Esta frase poderia ser adaptada a um estudo científico/filosófico acerca do corpo humano e poderíamos criar uma frase deste tipo:
"Um corpo humano é feito de órgãos. É o órgão que me interessa - não o corpo."

Ou então poderíamos adaptar a uma linguagem automobilística e ficaríamos com um frase deste tipo:
"Um carro é feito de peças.
É a peça que me interessa - não o carro."

Analogias à parte, como podemos separar o todo de uma parte, mesmo que seja apenas numa escala de interesses meramente pessoal? O todo não é apenas a soma das partes, há "algo mais" para além disso, e é esse "algo mais" que não pode ser de maneira nenhuma, segundo o meu ponto de vista, escamoteado, pois poderíamos assim correr o risco de deixarmos de lado numa escala dicotómica simplificada de interesses pessoais, aquilo que nos torna realmente indivíduos/seres humanos.

O Iconoclasta 17 de outubro de 2009 às 00:36  

Se bem o(a) percebo entende que o que nos confere a Humanidade é o todo, a sociedade? O arquétipo de um eremita seria portanto nada mais do que um animal?

Anónimo 18 de outubro de 2009 às 21:33  

Não fui totalmente compreendido e por isso peço desculpa. Não quis fazer transparecer com o meu comentário que o que nos confere a Humanidade é o todo, a sociedade, aliás, segundo as minhas palavras, referi que existe "algo mais" para além da soma das partes, ou seja, que uma sociedade não pode ser considerada apenas como uma simples soma de indivíduos (não retirando a importância do indivíduo em si) mas que devemos ter em conta "algo mais" para além disso. Quanto a mim é nesse "algo mais" que reside uma importante parte da nossa humanidade, pois para mim esse "algo mais" não é nada mais nada menos do que as próprias relações/ligações que se criam entre os vários indivíduos que compõem uma sociedade, e que muitas vezes têm como base os próprios sentimentos que os mesmos nutrem uns pelos outros, sentimentos esses que têm origem nas emoções que vão surgindo naturalmente a partir da interacção entre eles. Creio que é nesses sentimentos e emoções que reside uma grande parte da nossa humanidade. Quanto ao caso que cita como exemplo, o próprio eremita * estabelece uma relação com a sociedade em que vive, pois é ele que decide viver isolado, e quase sempre essa sua decisão baseia-se num sentimento ou numa emoção em relação à sociedade em que vive, ou em relação ao ambiente que o rodeia.
* Eremita ou ermitão - indivíduo que, usualmente por penitência, religiosidade, misantropia ou simples amor à natureza, vive em lugar deserto, isolado.

O Iconoclasta 19 de outubro de 2009 às 00:55  

A forma como apresenta o que pensa acerca do que nos confere a humanidade faz-me lembrar a explicação de John Searle, se não estou em erro, quando tentava, por analogia, resolver a questão das propriedades cerebrais superiores através da interacção neuronal, comparando o processo à emergência de propriedades sociais (instituições, por exemplo) decorrentes da interação dos indivíduos. Tive sempre alguma dificuldade em aceitar essa explicação. E passo a explicar: quando observamos um dado fenómeno social (seja político, artístico, económico, etc...) este raramente é válido para além do facto concreto em análise, ou seja, parece-me que algo de que se queira tirar conclusões é sempre contingente, inválido para todas as situações. O que permanece, o que é sempre necessário, é o indivíduo, sem ele não haveria sequer algo a que se pudesse chamar de social. São os próprios indivíduos que tornam o social válido, que lhe dão importância. O que emerge das relações entre indivíduos é sempre aleatório, imprevisível. Eu inclino-me mais para acreditar que valemos por nós mesmos, pelo que somos. E contradigo David Hume e a falácia naturalista concordando com Fukuyama neste particular. O social vejo-o como acessório, não como necessário.